Não! Não chamo o Ano de novo, de novo. Não quero outra vez
recomeçar do nada. Cansei de me reinventar igual, de me boicotar como sempre,
de morrer aos poucos. Essa brincadeira de ser fênix cansou. Será que esse
cansaço passa?
Mas
sei que isso é faz-de-conta! O meu tempo, faz tempo, já sabe contar e conta
veloz, cada vez mais.
O que espero do Ano que vem? Apenas que ele venha. Eu o
aguardo como se aguarda a visita de um amigo que certa vez disse, assim meio
sem querer descuidado, que qualquer dia passará em casa para um café.
Não
deixarei o bolo assando no forno, nem a água fervendo para o Ano que dizem vai
chegar.
Quando vier, se eu estiver, será recebido sem cerimônia, sem
falsa polidez. Talvez até lhe diga um palavrão carinhoso, exclamativo e
acolhedor. Será aceito com sorriso e abraço, assim, singular.
Não faço do Ano, que você insiste em chamar de novo, um
amante. Não lhe farei falsas e impossíveis promessas, nem tentarei nele
satisfazer meus desejos ocultos (ocultos até de mim).
Então, entenda! Não quero que o próximo Ano seja o
responsável pelas minhas
mudanças, ou pela minha sorte. Sou o senhor, o
causador, o artista, o diretor, o promotor, o público, a vaia, o aplauso, o
sonhador, o desastre, o motivador, o traidor, o empecilho,
o sol, a terra, a
água, a raiz, o caule, o rabo, o gato, a rosa e o espinho do meu destino.
Ano outro, que não este (que não foi lá muito meu camarada),
se vier, se for amigo, se quiser vinho, venha, venha sem compromisso. Venha que
eu nasci na Penha!
Sensacional texto Dorival!! Diferente de todos que já vi!
ResponderExcluirGracias
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirDorival,fico feliz em saber que entre os Valentes há um poeta, coisa rara d se vêr nestes tempos onde o funk, o sertanejo universitário, se destacam, tristemente, como ícones d nossa atual cultura. Parabéns por promover mais poesia, mas cultura em nossos corações magoados pela cizânia q nos foi imposta por aqueles q justamente deveriam zelar pela unidade da nação.
ResponderExcluirObrigado, Paulo!
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