quinta-feira, 11 de outubro de 2018

-DIZEM QUE FOI ASSIM... (publicado originalmente no site ITIS.art.br)



(foi mantido o texto original)
O IT IS é um site que fala de artes... e de pessoas... e das histórias onde esses dois elementos se mesclam, se confundem e se completam. Sendo assim eu não poderia deixar de contar essa história (que, aliás, ouvi hoje).

Não sei, se agora (no momento em que escrevo) ainda é noite do dia 16, ou se já estamos na madrugada do dia 17 de outubro...
Eu sei que nesse cruzamento do tempo, há muitos e muitos anos, a arte se misturou com a vida e a transformou.
O lugar era o rio Paraíba do Sul. Quando muitos já haviam desistido, nossos três personagens, que são dedicados pescadores, continuaram a trabalhar, na esperança de conseguir alimento para um importante que iria chegar.
... E lançam a rede. Recolhem a rede... E nada!
... E lançam a rede. Recolhem a rede... E nada!
... E lançam a rede. Recolhem a rede... E nada!
Então a arte entra em cena!
Uma estátua de santa, sem cabeça.

É uma santa! Não é! É um milagre! Não é! É um sinal divino! Não é!
... E lançam da rede. Recolhem a rede... Pesada rede... Meu Deus, quanto peixe!
Tanto peixe! Tanto peixe! Será que o barco aguenta? Quase que não!
E assim me contaram do primeiro milagre.



Essa é a história de Nossa Senhora Aparecida. A comemoração ser no dia 12 não me foi explicada (acho até que nem perguntei).
Sem querer entrar em méritos de crenças ou de fé, é uma bela história. Simplória, como deviam ser os pescadores. Pequena, como é o tamanho da estátua. Mas com um poder de contagiar que só as grandes obras trazem.
Ver a Monalisa no Louvre tem toda uma aura mítica e mística. Será diferente a sensação se, por incrível acaso, você a encontrar na parede de uma oficina mecânica.
Ouvi a história que contei dentro de um barco, no local do achado, no dia que precedeu esse encontro da arte com a vida.


... E olhe como a arte é importante! Veja no que se transformou essa estátua e essa história...
Dizem que foi assim...



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

LUZ


Há uma luz que ilumina em silêncio! 
Não por timidez ou modéstia, 
Mas porque sabe brilhar. 

A consciência sobre si 
Traz a serenidade de uma claridade 
Intensa e discreta. 
Diferente do cometa, 
Que rompe a escuridão 
Como um susto 
E brilha em plenitude cinematográfica 
Como um raio, 
Mas que dura apenas o piscar do flash 

Depois, quando é passado, 
Aumenta a escuridão 
E cria a solidão.




Não é assim a luz de que falo. 
Ela, um sol, me encanta. 
Brilha desde o primeiro instante 
Em que a vi, 
Ilumina as trilhas da consciência, 
Clarifica a vida 
(não apenas a minha, 
Como também de todos 
Os que estão próximos a ela).



Plena sem limitar, 
Radiante sem ofuscar, 
Intensa como um farol 
Que orienta os rumos 
E ajeita os prumos. 


Estrela de muita grandeza, 
Que traduz a riqueza de ser gente, 
Que ilumina e se expande 
Num brilho sereno, 
Cintilante 
E incessante 
Produzido na beleza plena 
Da pessoa humana 
De nome 
Rosana!



terça-feira, 3 de julho de 2018

(escolha seu título) A HISTÓRIA DE UMA POESIA ou QUE OS FUTUROS ROBÔS NÃO SE LEMBREM DE ME ESQUECER!



Adicionar legenda
Não sou um narrador romântico desses que detalham todos os objetos e causas. Conto as histórias apenas com o que julgo necessário. Os detalhes? Esses deixou  para ajudar  a desenvolver a sua criatividade. Vivemos uma época onde tudo já nos vem pronto. A comida, os enfeites, o cabelo, as roupas, o transporte, as conclusões, a arte e, até, os pensamentos.
 Viver virou um grande “fastfood”, um “playground”, um lugar onde estamos apenas para passar um tempo. Qualquer esforço ganha o apelido de sacrifício. Pensar e imaginar, que eram tão fáceis e tão simples,  agora precisam de treinamento. Há cursos que pretendem ensinar como ser criativo ou original. E quem sai desses cursos, creio eu, são criativos e originais do mesmo jeito que os outros alunos “criativos e originais”. Não sabem tais estudantes que a criatividade é a diferença. E que as diferenças estão nas falhas, nos erros, na imperfeição. Nem a fotografia digital é perfeita, mas é permitido que seja retocada antes que a apresentemos, perfeita, ao público. E nós sempre a retocamos!

Em 1983, eu voltava da faculdade para casa, dia normal de semana, já madrugada. O ônibus cortava a cidade, do Oeste para o Leste. Passando perto do centro, embarcou um bêbado, maltrapilho e falastrão. Perguntou, assim para quem quisesse responder, onde estávamos. Eu respondi que era no planeta terra. Ele veio em minha direção. Não me pediu dinheiro, mas sim o jornal que eu ainda lia. Eu disse (tentando sem conseguir ser engraçado) que era de ontem (as notícias naquele tempo não eram assim “fast”). Ele me respondeu que não havia problemas, pois  só iria ler aquelas notícias depois que terminasse as de domingo e as de anteontem. Levou gentilmente meu velho jornal e me inspirou uma poesia:

Esta poesia faz parte do livro POESIA CRÔNICA

VAGABUNDO
Eu sou só tão vagabundo
Dono de tudo
Dono do mundo
Que nada tem
No meu jornal emprestado
Sei do passado
O fato do fato
Que tanto faz

Espaço dois outra linha
Outra aspirina
Esqueço do dia
Esqueço da vida
É hora de relaxar.

Não é a lua que manda
Nem o sol que comanda
É a vontade que há!

Sempre que penso em diferença, lembro desse senhor que não sabia onde estava, ou para onde ia, e pedia leituras e não dinheiro. Ele foi diferente, criativo e soube se manter vivo em meu pensamento, mesmo após tantos anos. Nesta época em que os consumos são tão rápidos, acredito, não há muito espaço para memórias antigas. A maioria das pessoas apenas se lembram dos  fatos que viveu porque são avisados pelo facebook. Até a memória se tornou um produto pronto que não nos pede nenhum esforço, digo, sacrifício.
Que os futuros robôs não se lembrem de me esquecer!


sábado, 30 de junho de 2018

TEXTO PERDIDO E ENCONTRADO

Então você vai mexer em emails enviados e encontra um poema que acredita ainda não ter sido publicado... O ano era 2012.

31 de dezembro

A cidade se arrastou para amanhecer
Os pesados solitários e lentos
Os passos dos poucos
Os trabalhadores de todos os dias
Dos não feriados
Dos santificados
Dos dias de tantos
Dos que ninguém lembra
Que se precisa trabalhar

Pra compartilhar
O céu chora desde a manhã
Não sei se é pelo ano
De que algum jeito está passando
Ou por aquele que virá
Não sei se é choro de emoção alegre
De tristeza profunda
De saudade
De esperança em dias felizes

Vai ver é só choro sem sentido
Vontade inteligível de chorar
Opções tantas
Quantas a vida nos deixa viver
Vai ver é só choro
Talvez até, quem sabe?
Seja apenas chuva!

Que o ano de não nos seja indiferente!