terça-feira, 3 de julho de 2018

(escolha seu título) A HISTÓRIA DE UMA POESIA ou QUE OS FUTUROS ROBÔS NÃO SE LEMBREM DE ME ESQUECER!



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Não sou um narrador romântico desses que detalham todos os objetos e causas. Conto as histórias apenas com o que julgo necessário. Os detalhes? Esses deixou  para ajudar  a desenvolver a sua criatividade. Vivemos uma época onde tudo já nos vem pronto. A comida, os enfeites, o cabelo, as roupas, o transporte, as conclusões, a arte e, até, os pensamentos.
 Viver virou um grande “fastfood”, um “playground”, um lugar onde estamos apenas para passar um tempo. Qualquer esforço ganha o apelido de sacrifício. Pensar e imaginar, que eram tão fáceis e tão simples,  agora precisam de treinamento. Há cursos que pretendem ensinar como ser criativo ou original. E quem sai desses cursos, creio eu, são criativos e originais do mesmo jeito que os outros alunos “criativos e originais”. Não sabem tais estudantes que a criatividade é a diferença. E que as diferenças estão nas falhas, nos erros, na imperfeição. Nem a fotografia digital é perfeita, mas é permitido que seja retocada antes que a apresentemos, perfeita, ao público. E nós sempre a retocamos!

Em 1983, eu voltava da faculdade para casa, dia normal de semana, já madrugada. O ônibus cortava a cidade, do Oeste para o Leste. Passando perto do centro, embarcou um bêbado, maltrapilho e falastrão. Perguntou, assim para quem quisesse responder, onde estávamos. Eu respondi que era no planeta terra. Ele veio em minha direção. Não me pediu dinheiro, mas sim o jornal que eu ainda lia. Eu disse (tentando sem conseguir ser engraçado) que era de ontem (as notícias naquele tempo não eram assim “fast”). Ele me respondeu que não havia problemas, pois  só iria ler aquelas notícias depois que terminasse as de domingo e as de anteontem. Levou gentilmente meu velho jornal e me inspirou uma poesia:

Esta poesia faz parte do livro POESIA CRÔNICA

VAGABUNDO
Eu sou só tão vagabundo
Dono de tudo
Dono do mundo
Que nada tem
No meu jornal emprestado
Sei do passado
O fato do fato
Que tanto faz

Espaço dois outra linha
Outra aspirina
Esqueço do dia
Esqueço da vida
É hora de relaxar.

Não é a lua que manda
Nem o sol que comanda
É a vontade que há!

Sempre que penso em diferença, lembro desse senhor que não sabia onde estava, ou para onde ia, e pedia leituras e não dinheiro. Ele foi diferente, criativo e soube se manter vivo em meu pensamento, mesmo após tantos anos. Nesta época em que os consumos são tão rápidos, acredito, não há muito espaço para memórias antigas. A maioria das pessoas apenas se lembram dos  fatos que viveu porque são avisados pelo facebook. Até a memória se tornou um produto pronto que não nos pede nenhum esforço, digo, sacrifício.
Que os futuros robôs não se lembrem de me esquecer!