O bezerro, que ainda não sabe e nem precisa respeitar as
porteiras, vem feliz do passeio.
Nós, as vacas e os bois, entediados com nossos destinos,
estranhamos a felicidade. Queremos saber de onde ele vem e o que lhe faz ter
esses olhos de esperança.
Será que achou grama nova? Será que o rio está mais limpo,
raso e fresco? Será que nasceram mais árvores? Será que as alfaces ou os patos
viraram moda na mesa dos humanos? Será que o verão está no fim? Será que o
inverno não virá? Será que a primavera terá menos pólen no ar? Será que o outono
será mais verde?
O bezerro não sabe nada disso.
O que sabe, então?
Ele estava, como sempre, distraído, perto de onde estavam os
humanos. Viu e ouviu alegrias.
Alegrias?
Sim, alegrias! E elas não eram por causa dos próprios
humanos. As alegrias foram motivadas pelo rebanho.
O rebanho? Nós?
Sim, nós, o rebanho!
Pelo que o bezerro entendeu, estamos (nós, o rebanho)
valorizados. Nossas qualidades passaram fronteiras. As ações até subiram e bateram
recordes (isso ele apenas ouviu e repetiu sem saber explicar o que é ou como
funciona). Será um novo tempo para os bovinos! Seremos donos do nosso destino
(profetizou). Muitos de nós vibram.
Longe do tumulto, andando de um lado para ou outro (para se
manter magro e vivo) o boi velho, pensativo, diz que é preciso cuidado quando
os fazendeiros estão felizes. As alegrias dos fazendeiros nunca são boas para o
rebanho.
Alguns entendem e concordam. Poucos repetem as palavras do
mais sábio dos bois. Mas a maioria diz que ele está ultrapassado e só sabe
torcer contra.
A maioria está feliz e esperançosa com as alegrias dos
fazendeiros. Acreditam piamente que um novo destino está nascendo para os
bovinos.
A poucos metros dali, as portas do matadouro recebem nova
graxa e os ganchos são afiados.
Muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirLinda metáfora!
ResponderExcluirObrigado, Maria!
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